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A IMPRENSA NA RECÉM INSTALADA REPÚBLICA

  Publicação do jornal “Brazil”, em dezembro de 1891, por ocasião da ida de sua Gerência ao Ministro da Justiça, José Higino: Quanto à impre...

Sylvio Leite

Homenagem do Professor Plínio Ribeiro Baptista Leite ao seu pai, Professor Sylvio Antunes Baptista Leite, em mensagem a seus irmãos. (transcrito do original em poder do Instituto)


Morreu Sylvio Leite

25 de novembro de 1968 foi um dia de luto para a família plinioleitense com o sentido desaparecimento d’aquele que me precedera na gloriosa e valiosa missão de instruir a nossa mocidade.

Sylvio Leite, filho de fazendeiro de Sapucaia, que também se desdobrava em professor primário autodidata, foi a mais digna representação do que seja um grande professor e um orador dos mais fluentes e entusiastas.

Em toda sua longa vida de 88 anos, 5 meses e 20 dias, Sylvio Leite só fez ensinar, e, como ensinava! Ainda me lembro e comigo todos que tiveram a ventura de ser seus alunos, o que eram suas aulas de Francês, língua em que foi um dos maiores cultores em nosso país. Como cultuava Corneille, Racine, Moliére e Victor Hugo! Suas aulas de geografia, de história, de português e de latim em nada deviam às de francês. Falava corretamente, além do português e francês, o espanhol, o alemão e o inglês. Enfim era um professor completo e de rara competência.

Dentro de uma sala de aula, era um astro de primeira grandeza que a todos os seus alunos empolgava.

Disciplinador rigoroso sempre pregou e fez existir em seu Colégio o princípio da autoridade! Quando ele chegava, com seus passos rápidos e enérgicos, houvesse o que houvesse, tudo se transformava e o ambiente mais anarquizado ou indisciplinado se convertia em ordem, respeito e amizade, pois ao lado de seu rigor e intransigente autoridade havia um grande coração! Em seu Colégio nunca houve quem fosse afastado por falta de recursos, chegando, muitas vezes, a ser vítima da exploração contra a qual tinham de lutar seus colaboradores e pessoas da família.

No tempo em que um Colégio valia pelo seu Diretor apenas como um grande professor, ele brilhou sempre como estrela de 1ª grandeza e seus alunos, nos exames oficiais, concursos ou outras provas, obtinham sem exceção os melhores resultados. Com o evoluir da educação nacional, tiveram os Colégios de se organizar para fazer face às novas exigências da vida e Sylvio Leite começou a reagir: ele só conhecia uma tesouraria representada pelo seu bolso guardando o que lhe pagavam e uma memória privilegiada tudo contabilizando, aliada a uma secretaria representada pelo valor intelectual dos alunos que ele preparava através de seu trabalho pessoal e de uns poucos professores por ele muito bem selecionados.

Fora, até então, sem favor algum, a maior das maiores estrelas do firmamento educacional brasileiro, mas, a partir de 1932, se foi desiludindo e aos poucos de tudo se foi afastando, até que, em 1948, desaparecia o último reduto de suas atividades: o Colégio Sylvio Leite, da “BOCA DO MATO” que ele construíra com todo carinho e que resolveu acabar, vendendo o imóvel ao SESC, em 1946.

Em 1904, no então Palacete Lisbonense, na esquina da Av. Rio Branco com Rodrigo Silva, começou Sylvio Leite seu primeiro curso organizado representado por uma grande sala onde, na parte dos fundos residia e na parte da frente separadas por um tabique de madeira colocaria as primeiras carteiras de sua propriedade. Foi nessa sala que nasci a 22 de abril de 1904, já sob o fulgor e o brilho de sua grande inteligência, recebendo assim a enorme responsabilidade de procurar seguir sua obra o que tenho tentado realizar se bem que em proporções modestas.

Em 1908, associado a Antonio Pereira Caldas, alugava o sobrado da Rua do Rosário nº 140, onde instalaram o “Externato Minerva”. Começava ele aí a possuir uma organização educacional e trabalhar em equipe.

Em janeiro de 1914, convencido de que o “Externato Minerva” não mais comportava a realização de seus ideais foi para a Rua Mariz e Barros onde alugou o prédio de nº 258, aí instalando o “Colégio Sylvio Leite”, instituição que foi das mais prestigiosas e famosas de seu tempo – d’ali saindo grandes figuras que ainda hoje pontificam em todos os setores de atividades do País.

Em poucos anos o Colégio se expandia, primeiro incorporando o prédio da esquina da Rua Barão de Ibituruna, onde um tradicional pé de fruta pão era o encanto da garotada do meu tempo com o nosso foot-ball de salão da época. Como era dura a bola e que resistência tinham nossas canelas! E o professor Cameira a cada momento nos alertava da vinda de Sylvio Leite – dizendo: é proibido jogar foot-ball com o pés. Papai sempre fora contra o foot-ball e só por 2 vezes foi ao América Football Club: em 1914 e em 1952, todas duas por minha causa.

Foi nessa esquina de Mariz e Barros com Barão de Ibituruna que se construiu a 2ª quadra de basketball da América Latina sob a orientação de Mr. William Kouri, pois a 1ª foi a da Associação Cristã de Moços, criação de Mr. Sims logo seguida do América Football Club com a quadra improvisada no gramado de foot-ball, sob a orientação de Alfredo Kholer.

Dessas 3 instituições: Associação Cristã de Moços, Colégio Sylvio Leite e América Football Club, partiu o basketball brasileiro para os dias gloriosos de hoje.

Pouco a pouco o Colégio cresceu e foi incorporando todos os prédios vizinhos até chegar próximo ao Asilo Isabel.

Durante a 1ª grande guerra, Sylvio Leite se meteu a industrial da malacacheta em Espera Feliz (Minas Gerais) e tudo que ganhou enterrou no Colégio comprando os prédios que ocupava e o famoso terreno da Rua Campos Salles por nós chamado da Estância, por que lá existia uma estância de lenha. Era o paraíso dos amantes das peladas clandestinas em horas de aulas e aí nos deliciávamos com as primeiras transmissões telefônicas e telegráficas, sempre interrompidas pelo aparecimento imprevisto de papai.

Em 1927, querendo servir à Petrópolis e a um velho amigo, fundou em fevereiro , o Colégio Sylvio Leite de Petrópolis, no prédio onde funcionara o Atheneu Brasileiro de propriedade de Frederico Ribeiro. Em março de 1929, vítima de grande prejuízo que lhe dera o amigo que o representava, resolveu fechar o Colégio de Petrópolis do que resultou ser aberto no mesmo local, em 15 de abril de 1929, o Colégio Plínio Leite que, em fevereiro de 1945, passou a ser o atual Colégio Carlos A. Werneck.

Em 1942 resolveu extinguir o Colégio Sylvio Leite da Rua Mariz e Barros, vendendo inclusive os imóveis.

Com a extinção, em 1948, do Colégio da Boca do Mato, recolheu-se Sylvio Leite à vida privada, afirmando sempre que viveria 150 anos e se lamentando de ter acabado com seus Colégios.

Da casa da Rua Aquidabã, que adquirira em 1910, só saiu para morrer, pois já d’ali foi removido, em pré-coma, no dia 23 de novembro de 1968, falecendo no dia 25 de novembro de 1968, às 18:0 horas.

Descido seu corpo à último morada, na tarde de 26 de novembro de 1968, sob o olhar triste e as faces banhadas de lágrimas de seus filhos, parentes e de muitos ex-alunos ali presentes, fechava-se o ciclo de vida terrena de um mestre que sempre encheu de orgulho aos seus discípulos de poderem ostentar o título de ex-alunos de Sylvio Leite e que foi uma das maiores culturas de nosso tempo e um dos maiores mestres do Brasil!

Hoje, justamente no 30º dia de sua morte, registro nessas rápidas e sinceras palavras toda minha dor, como filho e como professor, pelo desaparecimento aliado ao meu orgulho de ter sido seu discípulo e, como filho e modesto professor, a esperança de poder continuar sua obra transmitindo a meus filhos e netos a missão que dele um dia recebi por obra e graça de Deus!

Niterói, 25 de dezembro de 1968

Plínio Leite